Tendências em e-commerce para 2021
Publicado em 17/12/2020 - Atualizado em 26/01/2024
O ano de 2020 pode ser considerado um período a ser esquecido devido à pandemia da Covid-19. Infelizmente foi um ano que deixou milhares de mortos, destruição econômica na maioria dos países e inúmeras consequências danosas ainda por ser contabilizadas. Vários segmentos tiveram grandes impactos negativos, principalmente aqueles que dependem da necessidade de transporte e presença física.
Por outro lado, setores ligados à tecnologia apresentaram resultados muito significativos em termos de crescimento e relevância. É o que ocorreu em empresas de software, games, streaming, comunicação digital e, claro, o comércio eletrônico.
No Brasil, o faturamento do e-commerce (sem o Mercado Livre) no primeiro semestre de 2020 — divulgado pela Ebit Nielsen — foi 47% superior aos 6 primeiros meses de 2019. O trimestre de maior crescimento em 2020 até o momento foi o 2º (abril a junho), com 57%.mSegundo a NeoTrust, do Grupo Clear Sale, o faturamento nos 9 primeiros meses de 2020 já superou a totalidade do e-commerce de 2019. Somente no 3º trimestre, o número de consumidores únicos chegou a 23 milhões ou 60% superior ao mesmo trimestre de 2019.
Mas a proposta deste artigo é falar sobre as tendências no e-commerce para 2021, tanto no Brasil como no mundo. Portanto, vamos lá!
1 – O e-commerce continuará fortalecido
Enquanto uma boa parcela da população mundial não estiver protegida pela imunização de vacinas e as medidas de confinamento continuar a inibir parte da circulação na sociedade, as vendas não presenciais continuarão bastante aquecidas.
Muitos consumidores que eram receosos em comprar pela internet descobriram ao longo de 2020 a comodidade, praticidade e agilidade de comprar e receber seus produtos no conforto de suas casas. Isso fez com que o crescimento no número de e-consumidores aumentasse bem acima do inicialmente planejado. No pico do consumo virtual, entre abril e junho, vimos sensível recuperação nos prazos de entrega. Isso fez com que os empresários do setor superassem grande obstáculos.
Mesmo com o fim do confinamento e a redução do medo de frequentar espaços fechados, que deverá ocorrer a partir de 2022, muitos novos consumidores online continuarão comprando em lojas virtuais. Irão adquirir bens de consumo não-duráveis, que antes seriam pouco prováveis como alimentação, higiene, limpeza e bebidas ou FMCG – Fast Move Consumer Goods.
Tive acesso a um estudo anual de e-commerce na Espanha, realizado pelo IAB, que mostra que o coronavírus mudou para sempre a forma de comprar. Este ano subiu a média mensal de compras pelos consumidores virtuais para 3,5 vezes, quando nas edições anteriores (2019 e 2018) a média era de 3 vezes por mês.
Os jovens entre 25 e 34 anos são os que mais compram, chegando a cinco vezes por mês. 13% deles até compram 3 ou 4 vezes por semana! Em média, o gasto é de 68 Euros por compra, um acréscimo de 4 Euros face aos resultados de 2019. Quem tiver interesse em se aprofundar nesse estudo deixo o link de sua apresentação: https://youtu.be/mykXLUG8jBc
2 – Fortalecimento e consolidação dos marketplaces
É inegável a importância e fortalecimento que os marketplaces tiveram nos últimos anos, e principalmente em 2020. Muitas lojas virtuais e principalmente pequenos comerciantes se renderam à oportunidade de vender seu produtos e serviços em marketplaces. Esse que, à cada ano, se tornam mais poderosos e relevantes em termos de vendas e conveniência aos consumidores.
No Brasil, desde o anúncio da chegada da Amazon em 2012, vimos as maiores lojas virtuais se transformando para poderem estar preparadas para chegada do gigante do e-commerce mundial. Somente nos Estados Unidos, ele representa praticamente 50% de todas a vendas do e-commerce.
A universalização do acesso à Internet móvel no mundo, onde mais de 3,6 bilhões de pessoas acessavam a Internet por dispositivos móveis em 2018 (fonte GSMA), fez com que empresas como Amazon, B2W, Mercado Livre, Magazine Luiza, Via Varejo entre outras, fizessem investimentos maciços em tecnologia, infraestrutura, logística, fusões e aquisições. Tudo isso numa corrida desenfreada para ser o maior e principal marketplace do Brasil e da América Latina, disputando pelo “podium” de qual empresa terá o principal e mais querido Super APP da região.
3– Consolidação do Omnichannel
A partir da segunda metade dos anos 2010, com a chegada dos smartphones em larga escala na sociedade, tivemos o avanço da integração do canal físico com o meio digital. Isso porque os consumidores sempre “enxergaram” as marcas das empresas de varejo com uma coisa única, não fazendo muito sentido o isolamento dos canais de atendimento.
O mercado entendeu que os consumidores que interagiam com as empresas de varejo por meio de múltiplos canais — como físico, computador e Smartphones — eram mais rentáveis e fidelizados, trazendo maior rentabilidade e valor para as companhias. Sabíamos por pesquisas e estudos qualitativos que esse consumidor multicanal gerava um retorno de 2 a 4 vezes maior que outros que compravam por apenas um canal, físico ou virtual.
Atualmente, especialistas do mercado vêm a estratégia omnichannel como sendo a única alternativa de agregar valor às empresas. Isso porque resulta em maior eficiência operacional, robustez, agregador de margem aos negócios e principalmente potencializa a satisfação dos consumidores. Esse conceito explora as vantagens do mundo online, como agilidade, maior disponibilidade de informações, praticidade e conveniência ao mundo offline — onde muitas vezes vemos o Showrooming, Click-and-Collect, troca e devolução integrada como algo fundamental e desejável.
Portanto, 2021 será um ano crucial onde assistiremos movimentos importantes de consolidação do omnichannel nas redes varejistas, que já estão trabalhando esse assunto. Além de muita preocupação quanto à sobrevivência de outras que sequer iniciaram essa transformação.
4 – Live Streeming Commerce ou Live Commerce
Especialistas de mercado estimam que o Live Commerce irá explodir em vendas em 2021.
Podemos entender o Live Commerce como uma inovação do antigo canal de Televendas (ex. Polishop, Shoptime). Porém, agora usando smartphones com Streemings de vídeo interativos, onde a audiência pode curtir, comentar, fazer postagens e claro comprar com poucos cliques por meio de pagamentos instantâneos sem fricção integrados aos aplicativos (APPs). Nessa nova tendência de Live Commerce temos a presença importante dos formadores de opinião e Influencers, que são denominados KOL (Key Opinion Leaders). São eles(as) que apresentam e testam os produtos em tempo real.
O lançamento do Pix no Brasil e a provável permissão de operação do WhatsApp Pay serão os grandes aliados que certamente irão potencializar essa modalidade de vendas. A Amazon nos Estados Unidos já começou a explorar esse tipo de transmissão com muitos canais dedicados aos mais diversos produtos e categorias. O YouTube está desenvolvendo a integração de links nos vídeos, com “Produtos neste vídeo”; Facebook e Instagram estão desenvolvendo funcionalidades de adicionar links de compra em conexões ao vivo.
No Brasil, grandes marcas, varejistas e marketplaces deverão adotar rapidamente esta inovação. Empresas como Mercado Livre, Rappi, Polishop, Shoptime e Delivery Center estão começando a fazer pilotos nessa modalidade. Outras marcas, como Chilli Beans, Farm e Animale, estão usando Lives com artistas para impulsionar suas vendas.
Para finalizar, entendo que teremos um 2021 bastante desafiador. Ainda estaremos lutando para nos livrar da pandemia e em busca de soluções e alternativas para voltarmos à vida normal. Nesse cenário a economia digital continuará sendo uma saída para a criação de alternativas e oportunidades de geração de riqueza e valor para a sociedade.
* Por Pedro Guasti, co-fundador da Ebit, Conselheiro, especialista em e-commerce, inovação e empreendedorismo.
Fonte: E-Commerce Brasil